Dos rios do Ártico ao cancro da mama: de que forma a cooperação entre a UE e a Rússia pode melhorar a vida dos cidadãos dos dois lados das fronteiras
O que têm em comum os rios árticos, um hospital da cidade lituana de Klaipeda e água potável que alimenta a cidade russa de Sortavala?
Todos eles beneficiam da cooperação transfronteiriça entre a União Europeia e a Rússia, que visa facilitar o desenvolvimento socioeconómico e promover laços mais estreitos entre os residentes dos territórios de ambos os lados da fronteira.
«Devido aos terrenos pantanosos da Carélia, a nossa água pode ser castanho-escura», afirma Valentina Gorbunova, uma especialista russa no tratamento da água que participa num projeto de cooperação transfronteiriça com homólogos finlandeses. «Têm uma enorme experiência na conceção, construção e exploração de instalações de abastecimento de água e de tratamento de águas residuais e estão prontos a partilhá-la connosco.»
Em resultado deste projeto, os habitantes de Sortavala e das localidades circundantes poderão em breve beber água limpa diretamente da torneira, o que representa uma melhoria significativa da sua qualidade de vida.
Valentina Gorbunova, juntamente com outros participantes, faz parte de uma exposição que apresenta 22 projetos de cooperação transfronteiriça UE-Rússia executados com êxito desde 2014.
Valentina Gorbunova, uma especialista russa no tratamento de águas, que colabora no projeto Carélia.
A exposição «Juntos», que abriu as suas portas em 18 de outubro em São Petersburgo, será igualmente apresentada em Petrozavodsk, Calininegrado, Murmansk e São Petersburgo — quatro grandes cidades do Noroeste da Rússia que participam ativamente na cooperação transfronteiriça UE-Rússia.
A exposição ilustra os benefícios concretos dessa cooperação para os cidadãos da Rússia, Estónia, Finlândia, Letónia, Lituânia, Polónia, Suécia, Dinamarca e Alemanha, bem como para a Noruega. Mostra como a cooperação transfronteiriça permite enfrentar desafios comuns relacionados com o ambiente, a saúde pública, a segurança e a proteção, e contribui para a criação de parcerias a longo prazo.
Mapa da região fronteiriça que beneficia dos programas de cooperação transfronteiriça UE-Rússia.
Outro projeto apresentado na exposição visa melhorar a deteção precoce do cancro da mama e do cancro colorretal na região de Calininegrado, na Rússia. e no distrito de Klaipeda, na Lituânia.
Foram criadas infraestruturas de diagnóstico precoce nas duas regiões, com a participação de hospitais de ambos os lados da fronteira. Foram também envidados esforços no sentido de melhorar as qualificações do pessoal médico e sensibilizar o público para a importância do diagnóstico precoce.
O hospital central da cidade de Calininegrado dispõe agora de um centro médico especializado com equipamento de diagnóstico de ponta, o que triplicará as suas capacidades de diagnóstico. Graças ao projeto, os especialistas russos e lituanos puderam igualmente partilhar a sua experiência e elaborar recomendações metodológicas para os profissionais da saúde nos respetivos países.
«A prática de controlos regulares está generalizada na Europa, mas na Rússia a medicina preventiva só recentemente se tornou parte da vida quotidiana», afirma o oncologista e cirurgião russo Dmitry Ermakov. «Graças a tais projetos, estes serviços importantes estão a tornar-se cada vez mais acessíveis e as pessoas descobrem a possibilidade de se submeterem gratuitamente a exames médicos de qualidade.»
Uma imagem de um dos 22 projetos de cooperação transfronteiriça UE-Rússia.
A exposição ilustra o âmbito da cooperação transfronteiriça, com projetos que abrangem uma grande variedade de domínios, desde a proteção contra incêndios à restauração dos ecossistemas dos rios árticos, ao turismo gastronómico, ao empreendedorismo feminino, à psicologia infantil, à gestão de instalações, à formação em robótica e programação, e muito mais.
«A cooperação transfronteiriça é uma área largamente desconhecida da nossa cooperação», afirma Markus Ederer, Embaixador da União Europeia junto da Federação da Rússia. «O que esta cooperação tem de especial é o facto de não ser abstrata, mas sim muito concreta e tangível. Os cidadãos podem ver os seus resultados e, espero, sentir mudanças positivas nas suas vidas.»
A exposição está aberta até 31 de outubro na Universidade Estatal de Economia de São Petersburgo, antes de partir para Murmansk em novembro.
Para todos os que não puderem visitar a exposição, «Juntos» tem igualmente uma versão em linha que inclui uma série de vídeos.