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Caso de sucesso: Depoimento de Alda de Apresentação Presidente da Associação das Peixeiras de Angolares – Mengaí São Tomé e Príncipe

09.03.2022
Brussels

Eu sou Alda de Apresentação Delgado, tenho 64 anos, sou Presidente da Associação das peixeiras de Angolares – Mengaí. Trata-se de uma associação formada há 20 anos e somos 15 mães de família. Também fazemos criação de animais para ajudar. Basicamente, compramos e salgamos peixe fresco para revender. Temos um pequeno fundo que partilhamos de maneira rotativa para que todas as mulheres tenham acesso desde que todas cumpram e o juro é baixo. Com o lucro do negócio, colocamos os nossos filhos na escola, tratamos da saúde das nossas crianças e resolvemos outros problemas das nossas casas.

Woman with glasses in a garden

Nós lutamos para que os nossos filhos tenham uma vida melhor que a vida que tivemos e temos. Precisamos ter especial atenção às nossas crianças. Precisamos alimentar bem os nossos filhos porque o desempenho na escola depende em grande medida disso. Uma criança com fome não estuda. Além disso, precisamos entender que, enquanto mulheres, temos o nosso papel a desempenhar nos nossos lares. Por isso é que nós falamos sempre umas com as outras na nossa associação, e também com as outras mulheres que não fazem parte do nosso grupo, para todas entenderem que também têm um grande contributo a dar. E hoje, vemos mais mulheres a contribuírem financeiramente para o seu lar. E quando isso acontece, há mais respeito para com elas e menos violência no lar. Aqui em Caué, temos mulheres batalhadoras: mulheres agricultoras, peixeiras, professoras, e até uma deputada temos, motivo de orgulho para as mulheres de Caué. Uma mulher que sai de casa e participa, aprende e poderá crescer mais. Há menos violência hoje porque as mulheres entenderam sobre os seus direitos e estão mais disponíveis e preparadas para aproveitar as oportunidades que aparecem.

A minha mãe morreu aos 33 anos e eu tinha 11. O meu pai tirou-me da escola porque não tinha mais ninguém que pudesse cuidar dos meus irmãos mais novos. O meu professor foi até onde vivíamos, na roça, e perguntou ao meu pai o motivo de ter tirado eu e a minha irmã mais nova da escola. E o meu pai explicou não tinha alternativa, porque tinha que trabalhar e não tinha como cuidar de todos nós. Eu voltei para a escola aos 52 anos e hoje tenho 4ª classe, sei ler e escrever. Eu só saí da escola porque comecei a ter problemas de visão. Mas eu meti todos os meus filhos na escola. As crianças devem ir para a escola. E toda essa consciência ganha-se com sensibilização e exemplos de pessoas que tiveram sucesso porque foram para a escola. Eu aprendi muita coisa relacionada com direitos das pessoas, sobretudo de mulheres e crianças.

Todas as vezes que a FONG me convidou para palestras e formação, nunca neguei a minha participação. Já participei em palestras de sensibilização e formação sobre direitos das mulheres, empoderamento das raparigas, direitos das crianças e também sobre a importância de nós, cidadãos, participarmos na vida colectiva. Também já participei num debate sobre obras que o Estado programa e que constrói através do

Orçamento Geral de Estado. E isso faz-me lembrar agora que no ano passado o Governo lançou a primeira pedra para a construção de um liceu aqui em Angolares, mas até agora mais nada foi feito além disso. É uma obra importante para o nosso distrito. Se não fizerem nada nos próximos tempos, temos que ir perguntar o que se passa.

E cada vez que consigo essas informações, eu chamo as minhas colegas da associação e explico o que aprendi. E vejo que pouco a pouco, a vida das nossas associadas está a mudar. Havia um grande clima de conflito dentro da nossa organização, mas hoje isso não existe. Há mais entendimento e solidariedade no nosso seio. Colegas partilharam connosco que o teor das nossas conversas mudou também o comportamento dos seus companheiros em casa. Isso é um ganho grande. As mulheres hoje estão a despertar para a vida. Agora, nós tomamos palavra nas reuniões para expormos os nossos problemas, o que não acontecia antes. O que significa que se participarmos mais na vida da nossa sociedade, teremos os nossos direitos mais reconhecidos e teremos também melhores condições de vida para nós e para os nossos filhos.

Foto e depoimento recolhidos por Alexandro Cardoso (FONG,
Federação de Organizações Não Governamentais em São Tomé
e Príncipe). O projeto "Mais participação, mais cidadania",
financiado pela União Europeia no valor de 500.000 euros 
e implementado pela ACEP Associação para a Cooperação 
Entre os Povos e FONG através de ações de formação e
sensibilização, reforça as competências da sociedade 
civil na São Tomé no acompanhamento das políticas públicas,
nos direitos das mulheres e crianças e no apoio aos 
meios de comunicação social.

Pour plus d'informations, veuillez contacter :

Denise MOLICA, Chargée de programme

Email : [email protected]