Solidariedade da União Europeia: de Portugal à Polónia, a sociedade civil mostra-se unida
© Sónia Morais Santos
Sónia tem dificuldade em descrever o que é, para ela, um dia normal. É uma influenciadora digital, sempre à procura de inspiração e de histórias interessantes para contar. Também é mãe de quatro crianças e tem dois cães. Monotonia é uma palavra que não faz parte do seu vocabulário. Perguntamo-nos como faz uma mulher tão ocupada, que vive no outro canto da Europa, para conseguir viajar até à Polónia para ajudar os mais necessitados.
«É impossível não ser afetado por tudo o que está a acontecer», afirma Sónia. «Fui projetada para uma realidade totalmente diferente da minha e que me comove, porque está a acontecer na Europa. Acreditei desde sempre na ideia de uma Europa unida a bem da paz e acho que esta guerra nos apanhou de surpresa».
Momento de agir
O trabalho efetuado pelos voluntários europeus é extremamente valioso. Vai da recolha de bens e do voluntariado nos centros de distribuição, ao acolhimento de pessoas e animais de companhia que procuram refúgio, para além de muitas outras ações de solidariedade para com desconhecidos. Perturbada pelas notícias sobre a guerra, Sónia conseguiu encontrar uma iniciativa da sociedade civil chamada «caravana humanitária», que transporta alimentos e outros bens essenciais para a Polónia e regressa com pessoas que procuram obter asilo em Portugal. Informou-se sobre a iniciativa, conseguiu arranjar uma carrinha e só depois é que falou com o marido, que apoiou plenamente o seu projeto e se juntou a ela.
O apoio da família e dos amigos foi essencial. Vários amigos acabaram, aliás, por aderir ao projeto e contribuíram com mais três carros para a caravana.
Olhos na estrada e corações nas mãos
Partiram de Lisboa na noite de 1 de março, e decidiram parar para dormir para terem a certeza de chegar em segurança ao seu destino. Em cada automóvel, a tensão aumentava à medida que se afastavam de Portugal e se aproximavam do seu destino. Sónia explica que se estava a tentar preparar para o pior para depois não ficar tão chocada com o que viesse a encontrar.
Um dos amigos que se juntou à caravana, que tinha sido escuteiro, sugeriu-lhe que levasse um wakie-talkie: e a verdade é que os walkie-talkies acabaram por ser essenciais para comunicar possíveis mudanças de itinerário e para manter o contacto com os outros veículos.
As paragens durante a viagem foram decididas pelos organizadores da caravana. Foram também eles que encontraram o armazém na Polónia que recebe bens essenciais e para o qual Sónia e o seu grupo se dirigiam, após mais de 3 000 km de estrada. «O armazém estava cheio de fórmula para bebés, leite, vestuário... Foi nesse momento que me apercebi verdadeiramente de que tudo isto era real, que estava mesmo a acontecer», diz Sónia. O proprietário do entreposto é um ucraniano que vive na Polónia e que insistiu em dar almoço às pessoas que estavam a ajudar.
Próxima missão: encontrar as pessoas que procuram asilo em Portugal
Assim que os automóveis e as furgonetas ficaram vazios foi a altura de passar para o objetivo seguinte da viagem: ir buscar os refugiados que tencionavam pedir asilo em Portugal. Todos os condutores sabiam que esta seria a parte mais difícil: depararmo-nos com milhares de pessoas que procuravam ajuda quando apenas tínhamos alguns lugares disponíveis em cada automóvel. O papel da organização da iniciativa foi, uma vez mais, essencial: já tinham identificado um grupo de pessoas que queriam viajar para Portugal, muitas das quais tinham família no país.
Um dos automóveis percorreu uma distância suplementar de cerca de 400 km na Polónia para recolher quatro crianças, deixadas sozinhas à frente de um supermercado próximo da fronteira entre a Polónia e a Ucrânia. Os pais são enfermeiros e tiveram de regressar à Ucrânia, mas queriam garantir que os seus filhos estivessem em segurança. Mais tarde, as crianças foram acolhidas num convento situado nas proximidades, que tinha alertado a organização para este caso, e foi aí que os voluntários os foram buscar.Regresso para alguns, um novo começo para outros
Os três automóveis, mais um outro que se juntou ao grupo em Varsóvia, conseguiram recolher doze pessoas. No total, a primeira viagem da caravana humanitária trouxe cerca de setenta pessoas para Portugal.
Nem todas essas pessoas falavam inglês, por isso grupo teve a preocupação de fazer com que, em cada automóvel, houvesse sempre alguém que entendesse a língua, para poderem comunicar.Duas irmãs, de 24 e 35 anos de idade, e uma outra senhora, dos seus sessenta anos, viajaram no automóvel de Sónia. «Os primeiros momentos foram muito difíceis. Sente-se que há um grande sofrimento», afirma Sónia, acrescentando que foi através de uma canção que conseguiram quebrar o gelo. Depois de a Sónia ter tocado uma canção de Portugal, partilharam todos a canção da Eurovisão «1944» do cantor ucraniano Jamala. A canção, que fala da deportação de tártaros da Crimeia na década de 40, comoveu todos os passageiros e o sentimento de compaixão e empatia que gerou persistiu ao longo do resto da viagem.
O apoio da comunidade permitiu aos voluntários proporcionar um certo conforto às pessoas que viajavam para um novo país e uma nova vida. Quando chegaram a Portugal, o alojamento já estava garantido a todos os refugiados e Sónia recorda a emoção que sentiu quando as duas irmãs foram acolhidas pela mãe e pela tia: «A forma como se abraçaram, com lágrimas de alívio, e a forma como também nos acolheram a nós... sentimos que tínhamos conseguido salvar uma família».
Todas as ações, grandes ou pequenas, afetam a vida de alguém.
Ao refletir sobre o impacto desta iniciativa, Sónia pensa nas perguntas que o filho lhe fez quando chegou: «Como te sentes depois de tudo que viste? Achas que alcançaste o teu objetivo ou...?». Sónia está bem ciente de que apesar não ter mudado o mundo, fez uma diferença na vida das pessoas que ajudou a trazer para Portugal: «O nosso grupo trouxe doze pessoas para Portugal. Pode não ser muito comparado com a multitude de pessoas que ainda precisam de apoio, mas é qualquer coisa e faz toda a diferença na vida de doze famílias».
O testemunho de Sónia dá voz a milhares de pessoas que, desde o início da invasão da Ucrânia, têm dedicado o seu tempo e investido a fundo para apoiar outros. A sociedade civil e as instituições estão neste esforço.
A Comissão Europeia trabalha em todas as frentes para apoiar a Ucrânia através da prestação de assistência, ajuda humanitária e proteção civil. A UE concordou igualmente em ativar a Diretiva Proteção Temporária, a fim de proporcionar uma proteção rápida e eficaz às pessoas que fogem do conflito, sejam elas cidadãos ucranianos ou pessoas de outras nacionalidades.
Para mais informações:Solidariedade da UE para com a UcrâniaA UE apoia a UcrâniaAssistência da UE à UcrâniaFicha informativa:Proteção temporária e orientações para os controlos nas fronteiras