Belém reúne especialistas brasileiros e europeus para discutir iniciativas de turismo sustentável e comunitário que podem beneficiar a Amazônia
Belém, Pará – Durante o evento "Conectando Culturas e Natureza: Iniciativas de Turismo Sustentável do Brasil e da União Europeia", realizado na quarta-feira (18) em Belém, especialistas brasileiros e europeus destacaram como formas inovadoras de turismo inteligente, criativo e de experiências podem promover a sustentabilidade ambiental, cultural e social de comunidades.
Organizado pela Delegação da União Europeia no Brasil, em cooperação com o Ministério do Turismo e a Prefeitura de Belém, o evento antecedeu a reunião dos ministros do Turismo do G20 e o 4º encontro dos técnicos do Grupo de Trabalho de Turismo do G20. Um dos principais temas a serem debatidos nesses encontros é o turismo sustentável, cujas propostas aprovadas serão levadas à Cúpula de Líderes do G20, em novembro no Rio de Janeiro.
Com a proximidade da COP30, que será sediada em Belém em 2025, a cidade amazônica se torna um palco estratégico para debater e implementar práticas de turismo que não apenas atraem visitantes, mas também respeitam e preservam o meio ambiente e as culturas locais.
Paraense de origem, a secretária-executiva do Ministério do Turismo, Ana Carla Machado Lopes, abriu o evento destacando a importância de ações integradas para transformar Belém em um destino turístico sustentável que se torne exemplo para o mundo. "Queremos visitantes do Pará, do Brasil e do mundo, mas, como diz a música do Mosaico de Ravena, que venha um de cada vez. Afinal, não queremos nossos jacarés tropeçando em vocês, ou seja, que venham todos, mas com respeito à diversidade local. Para isso, é importante que todos nós também estejamos preparados para tornar estas questões de fato em boas práticas."
A secretária de Turismo de Belém, Julia Gorayeb, enfatizou a necessidade de preparar a cidade e o Pará para além de eventos internacionais: "Estamos trabalhando não só para a COP30, mas também para transformar o Pará em um destino turístico inteligente, que cause impacto positivo para os visitantes e para quem mora aqui."
Marlene Bartes, diretora de políticas da Comissão Europeia, reforçou a importância de tornar o turismo mais verde, digital e resiliente até 2030, com foco nas três dimensões da sustentabilidade: ambiental, econômica e social. "Precisamos garantir que o turismo beneficie não apenas uma parte de um país, mas ele como um todo. As boas práticas são fundamentais."
Stephanie Horel, oficial de programa da Delegação da União Europeia no Brasil, ponderou que é essencial que todos conheçam a agenda global de sustentabilidade. "A COP não é Copa do Mundo. É importante trazer a COP para Belém, sim. Mas é importante pensar nas negociações que serão travadas aqui no ano que vem: os países vão discutir os termos para renovar suas ambições sobre a redução das emissões de gases de efeito estufa."
Segundo Stephanie Horel, o evento será importante também "para que muitos conheçam a realidade da Amazônia urbana. Porque todos ouvem falar da floresta, dos povos indígenas, que são pautas muito importantes. Mas é preciso pensar que 60% das pessoas que moram na Amazônia estão em cidades."
Perspectiva Europeia
O primeiro painel, moderado por Luiz Fernando Destro, diretor de turismo da República Tcheca, abordou boas práticas de ecoturismo e conservação da natureza em países europeus, com a participação de Luís Campos, representante de Assuntos de Turismo de Portugal na União Europeia, e Ricardo Blanco, diretor de Turismo Sustentável da Secretaria de Estado do Turismo da Espanha.
Luís Campos trouxe a experiência do programa Empresas Turismo 360°, criado em 2021 com o objetivo de colocar as empresas no centro do processo de transformação de um setor mais responsável e sustentável. O 360° incentiva as empresas de turismo a reportar seu desempenho em matéria de sustentabilidade, apoiando-as tecnicamente na integração dos fatores ESG – Environmental, Social and Governance – na estratégia de negócio, na gestão e na cultura organizacional. Quem cumpre os critérios de desempenho obtém um selo de certificação.
Ricardo Blanco apresentou a Rede Natura 2000, a maior rede coordenada de zonas protegidas do mundo. Todos os Estados-Membros da UE fazem parte da rede, abrangendo 18% da superfície terrestre da UE e quase 6% do seu território marinho. O objetivo da Natura 2000 é garantir a sobrevivência a longo prazo das espécies e dos habitats mais valiosos e ameaçados da Europa. Blanco mostrou como a Espanha explora o turismo nas áreas que fazem parte da rede, proporcionando aos visitantes experiências únicas de contato com a natureza e de preservação da fauna e da flora.
Turismo Comunitário e Cultural
A segunda parte do evento foi marcada pelos estudos de casos de turismo sustentável com base comunitária em Belém. Izete Costa, mais conhecida como Dona Nena, relatou suas experiências a partir da fabricação de chocolate na ilha do Combu.
A história de Dona Nena é um testemunho de como o turismo comunitário e sustentável pode se profissionalizar e se tornar uma fonte de geração de renda e melhoria da qualidade de vida dos moradores. "Hoje, tenho minha fábrica de chocolate da Amazônia, que antes era apenas um sonho. Recebo turistas para vivenciar experiências únicas na floresta. Estou aprendendo inglês para recepcionar os visitantes da COP30," contou orgulhosa Dona Nena.
Silvia Cruz, turismóloga e professora da UFPA (Universidade Federal do Pará), apresentou dados que mostram o impacto das iniciativas de turismo comunitário nas ilhas do Combu e Cotijuba. Ela ressaltou os desafios que os moradores enfrentam para explorar de maneira sustentável a sociobiodiversidade e promover experiências autênticas aos visitantes, como a falta de água potável, especulação imobiliária e o aumento de empreendimentos de pessoas não nativas.
Inês Silveira, presidente da Fundação Cultural de Belém (Fumbel), falou sobre a importância de recuperar o patrimônio cultural local e destacou diversas iniciativas da sociedade civil realizadas durante o Círio de Nazaré e como isso impacta a cidade com muita antecedência. "O Círio atrai um turismo religioso, mas também um turismo cultural, que passa por ações como o Auto do Círio, a Festa da Chiquita e o Arrastão do Círio, do Arraial do Pavulagem. E nós, enquanto poder público, estamos juntos, apoiando e organizando a cidade para que todos tenham uma boa experiência."
Complementando o painel, o professor Carlos Costa, da Universidade de Aveiro, em Portugal, apresentou um modelo criado para impulsionar o turismo sustentável na Amazônia. Costa explica que a "economia do visitante" deve ter o efeito de impulsionar a economia local e beneficiar seus moradores, a partir da perspectiva de oferecer ao turista "sustentabilidade física e psíquica". A ideia é ir além do básico – hospedagem e comida – e criar uma dimensão que está associada à economia das experiências. "Para ser um destino de sucesso, e a Amazônia é claramente um destino de sucesso, a Amazônia precisa ser apresentada como algo único, e ela é, uma experiência que deixa lembranças memoráveis. O marketing deve apelar ao coração dos visitantes." Ele lembrou ainda a importância da capacidade de carga dos destinos, que envolve questões como planejamento territorial e infraestrutura das cidades.
Seguindo essa abordagem de dar um sentido emocional à viagem, Caroline Couret, da Rede de Turismo Criativo, apresentou as vantagens do turismo criativo como uma alternativa que se adequa a vários tipos de destinos. "Esse tipo de atividade oferece ao turista a oportunidade de desenvolver sua criatividade ao interagir com os moradores e costumes locais de um destino. É um turismo vocacional, baseado em paixões e interesses pessoais."
Como bem pontuou Stephanie Horel, Belém tem tudo para oferecer um turismo inteligente, criativo e de experiência. "A natureza, a cultura, a música, a gastronomia. Belém tem que se orgulhar do que tem para oferecer ao mundo, porque é algo muito especial, só existe aqui."
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